Luciana Carneiro fala durante o ato em frente ao Ministério da Economia (foto: Dandara Téa).
O dinheiro que não existia para atender à devida recomposição dos salários das servidoras e servidores públicos federais começa aparecer. Foi o que afirmaram manifestantes durante o ato público em frente ao prédio do Ministério da Economia que abriga o gabinete do ministro Paulo Guedes, na tarde da quinta-feira, dia 12 de maio de 2022.
É uma referência à anunciada intenção do governo Bolsonaro de conceder reajuste linear de 5% a todo o funcionalismo federal, incluindo servidores ativos e aposentados. Mesmo sem atender à pauta reivindicada pelos trabalhadores, é um recuo do Planalto, após, em dezembro passado, o presidente Jair Bolsonaro anunciar que preparava um reajuste restrito aos salários de policiais e outros segmentos da segurança pública.
“O dinheiro que até então não existia, mas que cada um aqui de nós sabe que existe, já começa a aparecer”, disse, durante o ato, a servidora Luciana Carneiro, diretora do Sintrajud e da Fenajufe. O Sintrajud participou com uma delegação composta por oito servidoras e servidores, além do também coordenador da Fenajufe Fabiano dos Santos.
“Se fizermos mais pressão, vai aparecer de fato o quanto eles estão escondendo”, afirmou Luciana, mencionando que somente o Poder Judiciário Federal devolveu à União, em 2021, mais de um bilhão de reais, recursos que poderiam ter sido destinados a conter a redução do valor real dos salários, corroídos pela inflação.
A dirigente sindical mencionou os altos lucros da Petrobras, dinheiro que a União, principal acionista da estatal, estaria direcionando para outros fins, como fundos eleitoral e partidário ou compra de votos, e não para iniciativas que beneficiem a classe trabalhadora.
A crítica foi também uma referência à declaração do ministro Paulo Guedes, naquele mesmo dia, favorável à privatização total da empresa – proposta que, ao que parece, teria motivado a nomeação de Adolfo Sachsida para o Ministério das Minas e Energia, no lugar de Bento Albuquerque.
Faz poucos dias, o Supremo Tribunal Federal respondeu favoravelmente a uma consulta da Casa Civil sobre ‘adotar o reajuste linear de 5% sobre os salários dos servidores do PJU’, assim como o Ministério Público da União. O mesmo ocorreu com o Legislativo, cuja Presidência do Senado também devolveu ofício ao governo afirmando ser favorável e haver recursos para isso.
Os servidores defendem reajuste salarial de 19,99%, índice que corresponde à inflação acumulada nos três primeiros anos do governo Bolsonaro. Na véspera do ato desta quinta em Brasília, o IBGE havia divulgado que a inflação em abril ultrapassou a marca de 1%, constituindo-se na mais alta em 26 anos.
A previsão do próprio Banco Central é que a inflação acumulada em 2022 atinja perto de 7,5% – índice que tende a ser ainda mais alto e pode elevar as perdas dos servidores nos contracheques a cerca de 30%, caso o congelamento salarial não seja derrubado.
A próxima data de mobilização da campanha salarial do funcionalismo está prevista para 19 de maio, quando devem acontecer atos e outras atividades nos estados. Em São Paulo, as servidoras e servidores do Judiciário Federal aprovaram, em assembleia convocada pelo Sintrajud, parar por 24 horas. “Não podemos desanimar dessa luta, precisamos fortalecer essa luta pelo reajuste”, disse Luciana, ao defender que é possível não apenas derrubar o congelamento, como conquistar a recomposição salarial reivindicada.