Editorial JJ 577: O que (não) esperar das eleições


22/08/2018 - Shuellen Peixoto

Aberta oficialmente a campanha eleitoral, não há muitas razões para nutrir boas expectativas em relação ao pleito. O projeto que está sendo construído pelo conglomerado das elites rurais e urbanas, mercado financeiro e empresariado industrial é legitimar nas urnas o programa e a política de ajuste que vêm sendo aplicados por Temer, que só não conseguiu ser pior por falta de força política.

Mesmo do alto da rejeição de 82% verificada na pesquisa Datafolha de junho em relação ao governo, Michel Temer costura um pacto com a maioria dos presidenciáveis para recolocar em marcha a ‘reforma’ da Previdência assim que for concluído o processo eleitoral.

E quase todas as candidaturas apresentadas na corrida ao Palácio do Planalto defendem políticas que vão no sentido da manutenção dos cortes nas áreas sociais, privatizações e arrocho sobre o funcionalismo e o conjunto da classe trabalhadora. Incluindo o PT, de Lula, cuja candidatura ainda estava sub judice quando esta edição foi concluída.

Apesar de denunciar ter sofrido um golpe quando a ex-presidente Dilma Rousseff foi derrubada, o Partido dos Trabalhadores nestas eleições formalizou alianças em 15 estados com partidos que votaram a favor do impeachment em 2016 e que integram ou integraram o governo atual. O MDB de Temer, PSB, PSD, PTB, PR e Rede estão no arco de alianças estaduais de apoiadores de Lula.

Os conteúdos do debate político e dos programas eleitorais registrados pelas candidaturas evidenciam muito mais consensos do que os discursos inflamados ou polarizações em debates por vezes fazem parecer. Tudo isso numa campanha onde a discussão política e de projetos de país também foi ‘desconvidada’ – especialmente após a reforma eleitoral capitaneada pelo ex-deputado Eduardo Cunha.

Eleito na coligação de Dilma Rousseff e sagrando-se presidente da Câmara na esteira da ampla bancada que teve em Lula um apoiador de peso, para depois comandar a derrocada petista, Cunha foi o patrono da Emenda Constitucional 97. A ‘minirreforma’ reduziu o tempo de campanha e apresentação de propostas dos candidatos à população, instituiu a cláusula de barreira que dificulta a representação institucional de siglas ideológicas e impulsiona o negócio das coligações por tempo de TV e interesses de oligarquias regionais. Além de legalizar a ‘janela do troca-troca partidário’, que concentra ainda mais a dominação das elites no Congresso Nacional.

A saída para os trabalhadores continua sendo a organização autônoma e independente e a mobilização para preservar direitos e avançar em conquistas. Como na greve geral de 2017, que adiou por pelo menos um ano a ‘reforma’ previdenciária que a maioria dos presidenciáveis quer retomar. Novamente, vamos à luta!

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