Não é hora de relaxar e contar com uma vitória que, por mais que pareça próxima, ainda é incerta. Foi o que afirmaram manifestantes que promoveram, em Brasília, a décima segunda semana seguida de manifestações presenciais contra a ‘reforma’ administrativa (PEC 32), que ameaça os serviços públicos.
Também alertaram para os métodos usados pelo governo Bolsonaro para votar seus projetos — baseados principalmente na compra de apoio e de votos, disseram. Na mesma semana, o governo federal conseguiu aprovar, no Senado Federal, a Proposta de Emenda Constitucional 23 — dos Precatórios ou do Calote, como preferem os manifestantes.
A pretexto de atender a um benefício social, a proposta sequestra recursos que seriam destinados ao pagamento de dívidas da União com aposentados e trabalhadores da ativa. Também abre um crédito de R$ 16 bilhões para as chamadas emendas parlamentares do relator, orçamento secreto que vem sendo usado justamente para comprar apoio de parlamentares a projetos impopulares.
As atividades da semana de 29 de novembro a 3 de dezembro de 2021 antecederam a que terá o dia nacional de luta, marcado para 8 de dezembro, com atos na capital federal e nos estados, inclusive São Paulo. “A gente sabe que, graças à nossa mobilização, tem um cenário de muita adversidade [para o governo aprovar agora]. Eles não têm coragem de colocar esse projeto para votar”, disse o servidor Fabiano dos Santos, da direção do Sintrajud e da federação nacional (Fenajufe), que integra a delegação do Sindicato. O Sintrajud esteve representado nas últimas 12 semanas de atos em Brasília.
“É o momento da gente intensificar a nossa mobilização, e não de achar que a luta está ganha, porque os desafios são muitos e os recursos que eles usam, além de tentar impedir a nossa manifestação, são a compra de votos de parlamentares, com dinheiro do povo, dinheiro que deveria estar sendo utilizado para termos melhores serviços públicos”, defendeu, criticando o fato de a direção da Câmara ter colocado grades no Anexo II para dificultar os protestos (foto).
Os servidores também ressaltaram a importância de construir um expressivo dia de manifestações na semana que vem. “A gente precisa fazer do dia 8 um grande dia nacional de luta aqui em Brasília e nos estados. A gente sabe que neste momento o que a gente consegue garantir [na capital federal] são representações, vamos garantir a maior representação possível, e quem não vier tem que estar engajado nas lutas nos estados”, disse Fabiano, ressaltando ainda a importância de participar das demais mobilizações contra Bolsonaro — como os atos das mulheres previstos para sábado, 4 de dezembro. “A luta contra o governo Bolsonaro é a mesma luta contra a PEC 32, uma luta se confunde com a outra. Derrotar esse governo é derrotar esses projetos e derrotar esses projetos é derrotar esse governo”, disse.
A servidora Luciana Carneiro, da direção do Sintrajud e também integrante da delegação, falou nos atos e ressaltou que a campanha contra a ‘reforma’ administrativa é um movimento por serviços públicos melhores e políticas públicas que atendam às necessidades de uma população cada vez mais empobrecida.
Numa das atividades da semana, servidores e servidoras foram à Rodoviária do Plano Piloto, na capital federal, dialogar com os transeuntes. Levaram uma geladeira com ossos (foto), simbolizando o crescimento da pobreza no país. “Nosso país voltou a frequentar o mapa da fome, muitos não têm casa para morar, não têm comida”, disse Luciana. “O governo precisa aprovar a PEC dos Precatórios para comprar deputados e, para isso, se utiliza da mentira de que esse dinheiro [dos precatórios] é necessário para pagar o Auxílio Brasil”, afirmou a servidora.