Debate sobre o sentido histórico do #8M reuniu mulheres da categoria no Sintrajud


14/03/2023 - Niara
Mulheres apostam na luta feminista, com consciência de classe para superar opressão e exploração capitalista

Fotos: Kit Gaion

8 de março é o Dia Internacional de Luta das Mulheres e o debate promovido pelo Sintrajud, “Um Resgate histórico do 8 de março”, buscou demarcar a posição das mulheres feministas de que o capitalismo não pode se apropriar da data para torná-la meramente comercial. O evento aconteceu no último sábado, 11 de março.

 

Servidoras e servidores da Judiciário Federal, na sede do Sindicato ou em participação remota, receberam as palestrantes Tábata Berg, doutora em Sociologia, e Marisa Mendes, da Federação Nacional dos Metroferroviários e do Movimento Mulheres em Luta. As palestrantes expuseram dados sobre a luta das mulheres no mundo do trabalho, a exploração e a opressão sofridas sob o sistema capitalista, e persistentes violências contra as mulheres na sociedade ocidental.

 

Tábata Berg fez um resgate histórico do 8 de março em uma perspectiva classista e decolonial. Ela reafirmou a importância das mulheres nas revoluções do século XX e na conquista de direitos não só para elas, mas para toda a classe trabalhadora mundial.

 

“O 8 de março foi se delimitando como uma data de mobilização global para as mulheres a partir de lutas fundamentalmente ancoradas no solo da luta de classes. Em 1917, aproximadamente 90 mil mulheres marcharam pelas ruas de São Petersburgo (Rússia), empunhando o lema ‘Pão e Paz’, sendo uma das principais bases para a revolução socialista mais importante do mundo… Podemos pensar quais são os fios invisíveis que ligam a marcha das mulheres de São Petersburgo, com o ‘welfare state’ (Estado de Bem-Estar Social) no norte global e com a implementação da CLT aqui no Brasil”, resgatou.

 

Destrinchando aspectos da luta de Laudelina de Campos Melo, mulher negra que esteve à frente da criação, em 1936, da primeira organização coletiva de trabalhadoras domésticas no Brasil, Tábata buscou jogar luz sobre as opressões e explorações sofridas pelas mulheres negras no Brasil. Ela relembrou as raízes do trabalho doméstico e a relação com o sistema escravagista. E pontuou como o machismo e o racismo formam um combo explosivo de opressões contra as mulheres negras, o que amplia a exploração capitalista sobre o grupo.

 

Já a metroferroviária, Marisa Mendes, ressaltou a luta das mulheres na América Latina contra a ultradireita conservadora que busca retirar direitos. O discurso desta ideologia se atualiza na política ampliando formas de violência contra a mulher nas suas diversas modalidades: violência física, obstétrica, sexual, patrimonial, violência sobre os direitos reprodutivos femininos e feminicídio.

 

“A junção da opressão contra as mulheres e negros e negras aumenta a exploração. O capitalismo passa por uma crise mundial. Quanto mais setores oprimidos, maior o aumento da exploração. Precisamos lutar contra o machismo e o capitalismo, porque o capitalismo se utiliza dessa opressão machista para aumentar sua lucratividade”, analisou Marisa Mendes.

 

As mazelas do capitalismo condenam muitas mulheres a um mundo de violências e desigualdade econômica, aprofundou Marisa.

 

“Cresceu o ódio contra as mulheres. São 800 mil estupros no Brasil por ano, e a maioria absoluta  das vítimas são meninas negras de até 15 anos. Cresceu a violência contra a mulher, um salto de mais de 30% nos números de feminicídio em relação a janeiro do ano passado. Cresceu a fome. A fome é também uma violência”, disse, indicando que o país tornou a figurar no mapa da fome mundial.

 

A categoria interveio com falas em defesa da valorização do serviço público. Servidoras criticaram a terceirização do trabalho e a divisão que se ocasiona por gênero e raça, que relega aos mais oprimidos os postos mais precarizados.

 

A diretora do Sintrajud, que mediou a mesa do evento, Luciana Carneiro, repudiou falas discriminatórias de personalidades políticas que negam o racismo e a transfobia na sociedade brasileira. “Nós queremos estar ao lado de todas as mulheres para defender direitos, de mulheres negras, mulheres trans. Por um mundo sem opressão”, declarou. Ela aproveitou para saudar mulheres que inspiram feministas, como Dandara dos Palmares e Marielle Franco.

 

O diretor do Sintrajud, Fabiano dos Santos, destacou ainda a importância da realização do evento, que teve caráter misto, como um espaço de excelência para formação dos homens que buscam se aliar às mulheres nas lutas feministas.

 

Antes do encerramento do debate, a servidora aposentada Fausta Camilo Fernandes, da JF de Caraguatatuba, encaminhou como proposta para o Coletivo de Mulheres do Sintrajud a promoção do debate sobre criminalização da misogenia e  discurso de ódio propagado contra as mulheres.  A proposta será discutida na próxima reunião do Coletivo de Mulheres.

 

Cultura

 

O grupo de teatro Erga Omnes abrilhantou o evento com a apresentação da obra “Quarto de Despejo”, da célebre autora preta brasileira Carolina Maria de Jesus. O espaço também contou com a leitura do poema “Todas as Vidas”, de Cora Coralina, pela servidora aposentada Maria Helena.

Além do debate e apresentações, a atividade contou com a exposição de trabalhos artesanais de trabalhadoras negras e um coquetel para os servidores presentes.

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