“Não há tempo, temos de tomar medidas agora”, frisou o geógrafo Jeferson Choma na mesa O meio ambiente e os impactos das mudanças climáticas sobre a vida dos trabalhadores na Reunião da Coordenação Nacional da CSP-Conlutas que acontece nestes dias 14 e 15 de novembro no Rio de Janeiro.
O Sindicato esteve representado na reunião pelos diretores Camila Oliveira, Isabella Leal e Ismael Souza e os servidores Fabiano dos Santos e Luciana Carneiro (que integram a direção da central, junto com Ismael).
Para abordar o tema considerado um dos pilares necessários para a atuação da CSP-Conlutas, participaram da mesa o idealizador da Coalisão do Clima RJ Pedro Graça Aranha, pesquisador da Fiocruz; o analista ambiental da ICMbio Bruno Lintomen, do Parque Nacional da Tijuca; o seringueiro Osmarino Amâncio, da Reserva Chico Mendes; e o geógrafo Jeferson Choma do programa Ecologia e Marxismo.
Entre os convidados é unânime que a causa global do caos climático no mundo são os principais países capitalistas, por isso a classe trabalhadora e povos do mundo devem se apropriar das ações que efetivamente possam frear o aquecimento global.
Convidados alertam urgência da defesa do meio ambiente
Pedro resgatou as ações promovidas dos países imperialistas que prometem tratar da questão climática mundial, mas na prática não aplicam suas próprias resoluções. Elencou ações desde os anos de 1960, a Conferência de Estocolmo, em 1972, a criação do Ibama, da Feema no Rio e Cetesb em São Paulo, a Eco 92 no Rio de Janeiro e outras
“Nenhuma dessas ações tomaram medidas que defendessem o meio ambiente, pelo contrário aprofundaram a destruição. Por isso a classe trabalhadora precisa enfrentar o caos climático. Nós não estamos vivenciando uma crise como denominam os países capitalistas e seus governantes, estamos vivendo um colapso climático”, apontou o pesquisador da Fiocruz.
Pedro ressaltou que o momento é fundamental e estratégico. “É tempo de organizar a classe trabalhadora para enfrentar o caos climático”, e reforçou: “Se não compreendermos que essa é a ação principal, a luta pelo clima, seremos escravizados pelo capital”.
Bruno procurou mostrar a difícil realidade que enfrentam os brigadistas contra incêndios diante da destruição do meio ambiente. “São pessoas com trabalho totalmente precarizado que não recebiam nem sequer insalubridade, há meninos que saem em defesa do meio ambiente porque querem defender a vida”, explicou. Dezenas de brigadistas morrem nessas ou tem a parte do corpo queimado.
Ressalta-se que no Brasil há brigadistas voluntários que aprendem a defender o meio ambiente, mas não são pagos por isso. São os chamados guardiões das florestas, nos quilombos, nos povoados ribeirinhos, em territórios indígenas e de pequenos agricultores.
O brigadista salientou que o fogo em pequena escala é parte de culturas agrícolas locais. “As grandes queimadas são as que destroem o meio ambiente e essas são promovidas pelo agronegócio, fazendeiros de gado, os que querem expandir terras de forma ilegal”, explica o brigadista.
Jeferson buscou mostrar o quanto o meio ambiente foi degradado na evolução humana. Lembrou o conceito de Marx em que indica a relação de troca energética mediada pelo trabalho humano, cujo metabolismo sofre brutal fratura a partir do desenvolvimento do capitalismo. “Uma prova é que apesar de tantos acordos climáticos 2024 está sendo o ano com a maior emissão de carbono no planeta: 107 bilhões de toneladas de emissão de carbono’, reforçou.
Apontou as catástrofes climáticas como resultado dessa política que implicam, entre outras, nas enchentes como a do Rio Grande do Sul, nas secas do Rio Negro no Amazonas, no alagamento do deserto de Saara e nas chuvas em Valencia na Espanha.
O geógrafo entende observa como perspectiva para a classe trabalhadora sob o capitalismo a imposição de novos êxodos, seja pela expansão da exploração de energia ou pelas catástrofes climáticas que obrigarão migrações de povos inteiros para outras regiões da terra.
“Não há tempo. Temos de tomar medidas agora. Sindicatos tem de assumir a luta da defesa do meio ambiente, parte das necessidades radicais da classe trabalhadora. Não há socialismo em terra arrasada”, finalizou.
Osmarino abordou as disputas entre EUA e China sobre a Amazônia e a atuação dos governos brasileiros que, por sua vez, garantem as estruturas do grande capital na Amazônia.
O seringueiro chamou atenção para as leis constituídas sob diversos governos em benefício do agronegócio, do desmatamento ilegal e que provocam a impossibilidade de vida dos povos da floresta. “Governos garantiram ao grande capital as estruturas do código florestal, assim se dá com o marco temporal ou a lei da floresta pública para a apropriação de empresas privadas por 40 anos”, repudiou, frisando que essas ações se dão desde a ditadura, governo Bolsonaro, também o governo Lula.
O seringueiro defende a organização de uma grande “empate”, como são chamados os enfrentamentos na floresta, em defesa do meio ambiente contra o grande capital.
O debate após as apresentações reforçou a urgência de organizar a conscientização e mobilização na base das categorias e movimentos populares para assumir essa luta. Propostas de lutas contra as mineradoras que destroem o meio ambiente em Minas Gerais; a erradicação do garimpo ilegal na Amazonia; fim das leis que privilegiam o agronegócio; fim da exploração d energia fóssil; investimento em transporte público de linha férrea e metrô em substituição ao carro e outras propostas foram defendidas para incorporação das bandeiras de lutas da Central.
Leia também:
RCN: Coordenação Nacional da CSP-Conlutas debate Reforma Administrativa e privatizações
G20: Cúpula dos Povos reúne ativistas para debater lutas para garantir futuro à humanidade
*Da CSP-Conlutas
*Foto de capa: CSP-Conlutas