Coletivo do Sintrajud terá nome de colega da JF/SBC vítima de feminicídio


12/02/2019 - helio batista

Na noite de Natal, dois dias antes de completar 52 anos de idade, Mara Helena dos Reis, servidora da Justiça Federal em São Bernardo do Campo, foi brutalmente assassinada pelo companheiro. Leandro Lustoza dos Santos confessou o crime em 26 de dezembro, data em que Mara faria aniversário, e levou a polícia ao sítio onde os dois viviam. Ele abandonara a mulher no local, sozinha, após tê-la esfaqueado pelo que chamou de “discussão fútil”. E ainda tinha levado o carro dela até Juquitiba, onde informou em uma base da PM o que havia feito.

A descrição do crime e seu contexto evidenciam como muitos homens – educados numa sociedade que hierarquiza os papéis de gênero – sentem-se donos do poder de decidir sobre a vida e a morte de uma mulher. O que se passou com Mara não é incomum, incluindo a naturalidade dos autores, como se não tivessem acabado de matar alguém.

Mara atuava como supervisora de cálculos judiciais no Núcleo de Apoio Regional da 14ª subseção judiciária. Funcionária da JF desde 12 de novembro de 1996, chegou a ser diretora de base do Sintrajud em 2011. Era uma ativa participante de mobilizações e greves da categoria.

Para que sua história não seja apagada, o Coletivo de Mulheres do Sindicato passará a ser denominado Coletivo Mara Helena dos Reis.

“É muito triste ter exemplos das consequências do machismo tão próximos, mas infelizmente o machismo e suas consequências permeiam toda a sociedade. E nós, do Judiciário, não estamos imunes e precisamos entender isso. O Coletivo de Mulheres do Sintrajud ter o nome de Mara Helena nos traz para mais perto a necessidade de discutir e combater essa forma tão cruel da desigualdade, que é a questão de gênero e sexualidade”, destaca a diretora Fausta Camilo Fernandes, servidora aposentada da JF/Caraguatatuba.

O delegado responsável pelo caso confirmou à reportagem, no dia 8 de fevereiro, que a reconstituição do crime descartou qualquer possibilidade de dúvida sobre a autoria. Leandro está em prisão temporária, e será solicitada a preventiva tão logo seja expedido o laudo necroscópico. A decisão sobre manter Leandro preso até o júri do caso caberá ao Judiciário.

 

O feminicídio em SP

O Ministério Público do Estado de São Paulo analisou 364 denúncias sobre mortes violentas de mulheres ocorridas entre março/2016 e março/2017.

* A cada três vítimas de feminicídio, duas foram atacadas em ambiente doméstico, e em 66% o local era a residência da vítima.

* 240 casos (65%) ocorreram em contexto de relações de afeto (praticados por namorados, maridos, parceiros fixos ou ex).

* 58% dos casos aconteceram durante a noite, entre 18h e 6h.

* Em 48% dos casos foram desferidos mais de dois golpes ou disparos contra a vítima.

* Em 45% dos crimes cometidos por homens com quem a vítima se relacionava, a principal motivação foi a mulher decidir pela separação.

* Em 30% dos casos a alegação foi “ciúme”/sentimento de posse/machismo.

Fonte: Raio X do Feminicídio em SP: é possível evitar a morte (MPSP, 2018)

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