Coletivo de Mulheres prepara ações do 8 de março


22/01/2018 - Luciana Araujo

Em reunião ocorrida neste sábado (20 de janeiro) trabalhadoras do Judiciário deram o pontapé inicial nas ações que serão desenvolvidas pelo Sindicato em homenagem ao Dia Internacional da Mulher Trabalhadora – 8 de março. Na primeira reunião do Coletivo de Mulheres do Sintrajud ocorrida neste ano, servidoras das Justiças Federal, do Trabalho e Eleitoral trocaram experiências e compreensões sobre o que é ser mulher numa sociedade que se construiu tendo como alicerce as violências de gênero e raça típicas de um território ocupado com fins de colonização para exploração e cuja economia se desenvolveu sobre o modo de produção escravista. Essas características do Brasil têm consequências para as mulheres e a população negra até hoje.

Estudo publicado pela organização internacional Oxfam destaca que no Brasil “as mulheres ainda ganham 62% do que ganham os homens, e os negros ganham meros 57% em relação aos brancos”.

No Judiciário Federal não é diferente, embora os salários sejam equivalentes. Somente em 2002 uma mulher assumiu uma vaga no Supremo Tribunal Federal e 84,5% dos magistrados do país são brancos segundo um censo realizado pelo Conselho Nacional de Justiça. E não há estudos consolidados sobre a composição de gênero e raça dos servidores do Poder. Relatos de assédio moral motivado por negativas a atitudes que configuram assédio sexual são recorrentes. A desqualificação de mulheres nos espaços de trabalho por meio de “piadas” e expressões machistas também são comuns.

“É uma construção social muito arraigada. Eu mesmo quando fui estagiária ouvi de um juiz que um dia seria futura capa da Playboy”, relatou a servidora da Justiça do Trabalho Larissa Chryssafidis.

“É comum, especialmente nos setores com maioria masculina, os homens fazerem comentários depreciativos sobre suas esposas, ou comentários sobre as mulheres serem ‘bobas’, ‘burras’. Essas atitudes, mesmo não sendo voltadas diretamente para nós, nunca ouvi nada assim diretamente sobre mim, mostram o quanto as mulheres ainda são desvalorizadas”, apontou Leda Caiana, também servidora do TRT-2.

Para a diretora do Sintrajud e servidora da JF em Caraguatatuba Fausta Fernandes, a formação do coletivo é fundamental para “ampliar a visão das mulheres sobre a nossa condição de exploradas, oprimidas e discriminadas. Muitas mulheres que conquistaram a independência financeira, têm um trabalho bem remunerado e assumem o sustento da casa e da família não se vêem como oprimidas. Mas a sociedade exige de nós sermos profissionais, administradoras das contas, mães presentes, esposas dedicadas, responsáveis pelos serviços domésticos ou pela contratação de outras mulheres para realizar tais serviços. Considerando o perfil da nossa categoria, a tarefa de discutir e expor a opressão é fundamental. E penso que nosso principal papel seja dialogar sobre isso com aquelas colegas que nunca pensaram sobre o assunto”, afirmou.

Um mês das mulheres com muitas iniciativas

A agenda para o mês de luta das mulheres será intensa. Além da participação no tradicional ato que acontece na capital do Estado e nas iniciativas realizadas no interior, as presentes iniciaram a discussão sobre a greve internacional de mulheres que está sendo convocada para o dia 8 de março. A paralisação feminina busca repetir a experiência ocorrida no ano passado, quando milhares de mulheres em todo o mundo foram às ruas. Esta foi uma das resoluções do 14º Encontro Feminista Lationamericano e Caribenho (Eflac), ocorrido de 23 a 25 de novembro em Montevidéu, no Uruguai, e que pela primeira vez teve entre um de seus eixos o debate sobre racismo e feminismo.

As participantes do Coletivo aprovaram buscar parceria com os sindicatos dos previdenciários (Sinsprev) e dos servidores federais do Executivo (Sindsef) para realizar um debate sobre os impactos da reforma da previdência para a vida das mulheres. O objetivo é fortalecer a mobilização contra a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional 287/2016. O indicativo é que o evento aconteça no dia 10 de março (um sábado) à tarde, para favorecer a participação das trabalhadoras.

Também será realizada uma atividade de corrida e caminhada das mulheres, prevista para o dia 18 de março.

Além disso, foi aprovada a constituição de um grupo de estudos sobre as origens da opressão da mulher e a produção de uma cartilha sobre assédio sexual e moral no trabalho – que será o primeiro material para impulsionar uma campanha contra o assédio no Judiciário Federal no Estado de São Paulo.

“Discutir as origens da opressão da mulher é fundamental para que a gente compreenda que nem sempre a nossa vida foi assim e que é possível transformar essa realidade, que não tem nada de natural”, ressaltou a também diretora do Sintrajud e servidora aposentada do TRF-3 Ana Luiza de Figueiredo Gomes.

Um coletivo plural com perspectiva de gênero, raça e classe

Outra deliberação da reunião foi o critério de funcionamento do Coletivo de Mulheres do Sintrajud. Ficou decidido que o espaço poderá ser integrado por trabalhadoras do Judiciário Federal, funcionárias do Sindicato e terceirizadas contratadas por empresas que atuam nos prédios do poder Judiciário Federal no Estado. A perspectiva é ser um coletivo que efetivamente reflita as diferentes demandas e problemas das mulheres que convivem nos espaços da categoria e de sua organização sindical, sempre na perspectiva interseccional – compreendendo que as desigualdades de raça, classe social e gênero formam um sistema articulado de hierarquização de vidas para potencializar a exploração de todas e do conjunto dos trabalhadores.

A próxima reunião ficou marcada para o dia 24 de março. Programe-se e participe.

Confira aqui a galeria de imagens da reunião.

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