Coletivo de Mulheres do Sintrajud repudia postura machista de brasileiros na Copa


19/06/2018 - Luciana Araujo

Desde o último sábado (16 de junho) um vídeo circula na internet gerando indignação e revolta em meio ao clima comemorativo da Copa, que já não estava muito ufanista neste ano. Um grupo de brasileiros aparece cercando uma jovem mulher aparentemente russa e entoando refrões sobre a coloração da genitália da moça. Entre os assediadores, um advogado e ex-secretário municipal de turismo na cidade pernambucana de Ipojuca e um tenente da Polícia Militar que atua no município catarinense de Lajes.

Diego Jatobá e Eduardo Nunes são, respectivamente, os dois primeiros identificados no vídeo ignominioso publicado em redes sociais dez dias depois do anúncio dos dados do Atlas da Violência 2018. Pode-se dizer que os dois e seus parceiros de registro audiovisual traduzem bem, naquelas lamentáveis cenas, o significado do que os movimentos de mulheres passaram a chamar de “cultura do estupro”, no país em que uma mulher é assassinada por razões ligadas estritamente a sua condição feminina. E onde, demonstra o Atlas, foram registrados em 2016 45.497 estupros no sistema de segurança pública, sendo que mais da metade dos casos envolvem crianças de até 13 anos e em 32% as vítimas são mulheres maiores de 18 anos. Os demais 17% são adolescentes de 14 a 17 anos.

Os envolvidos identificados agora tentam tratar o assunto como “brincadeira de mau gosto”. Mas na Assembleia Legislativa de Pernambuco houve um ato de repúdio às atitudes do grupo. E a seccional Pernambuco da Ordem dos Advogados do Brasil, à qual Diego Jatobá é inscrito como profissional do Direito, também divulgou nota de repúdio e pode abrir procedimento disciplinar contra o associado. A PM de Santa Catarina publicou por sua vez comunicado informando que quando Eduardo Nunes retornar ao trabalho será aberto um processo administrativo disciplinar para apurar a conduta irregular do militar, noticiou o portal G1.

Um terceiro homem que teria sido identificado, de acordo com o jornal Diário de Pernambuco, seria o engenheiro Luciano Gil Mendes Coelho, que já teria sido preso por desvio de dinheiro público na prefeitura de Araripina (Pernambuco). Ao portal de notícias UOL, Gil afirmou que quem o denuncia estaria “transformando um copo d’água em uma tempestade”.

Outro vídeo está circulando na internet com outro grupo de homens brasileiros adotando as mesmas posturas diante de mulheres que estão na Rússia para os jogos mundiais de futebol. Mais uma evidência de que, além do esporte, o machismo é um “símbolo de identidade” nacional.

O assunto – que vem repercutindo internacionalmente – causou indignação também no Coletivo de Mulheres do Sintrajud, que desenvolve uma campanha de combate ao assédio sexual no Judiciário.

O fato de Jatobá e Nunes serem servidores públicos, com boa formação educacional e nível de informação acima da média contribui para desmistificar que o machismo é mais “tosco” ou “bruto” somente nas camadas populares, como o senso comum preconceituoso costuma avaliar. E evidencia que violadores dos direitos das mulheres não são os “monstros” que atacam em becos, mas que o “cidadão de bem” comum, que convive com respeitabilidade social e status, é muitas vezes quem está por trás dos números tão escandalosos de violência contra mulheres que o Brasil ostenta. Ainda segundo os dados do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), que edita o Atlas, em 46% dos casos de estupro relatados, o autor era conhecido da vítima.

Por isso, o tema precisa ser institucionalmente tratado como uma mazela nacional a ser combatida pelos poderes constituídos, os sistemas educacional, de segurança pública e de saúde, a mídia e as organizações sociais, como os sindicatos e associações.

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