Bolsonaro diz que vai conversar com Temer para tentar aprovar reforma da Previdência


30/10/2018 - Shuellen Peixoto

Menos de 24 horas após ser eleito o próximo presidente da República, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ) disse que entrará em contato com o presidente Michel Temer (MDB) para tentar aprovar a reforma da Previdência. Ele disse que conversará com o presidente Temer para tentar aprovar na íntegra ou ‘ao menos parte’ da reforma da Previdência ainda em 2018, antes de assumir o cargo.

Bolsonaro, como já sinalizavam alguns membros de sua equipe e apoiadores, quer aprovar a reforma para evitar o desgaste de tal medida logo no início de seu governo. Pesquisas de opinião vinham indicando, ao longo do ano, que a PEC 287 é extremamente impopular e rejeitada por mais de 70% da população. A Proposta de Emenda Constitucional 287 tramita na Câmara dos Deputados desde 2016.

Caso aprovada, adiará ou inviabilizará o direito à aposentadoria para milhões de brasileiros. Além disso, resultará na redução total o parcial de benefícios e do valor de quem conseguir se aposentar. A proposta já passou pelas comissões especial e de justiça. Está pronta para ser levada a voto no Plenário da Câmara dos Deputados, de onde, sendo aprovada, seguirá para o Senado Federal.

A declaração foi dada em entrevista ao vivo à TV Record, na segunda-feira (29), dia seguinte às votações do segundo turno. Recém-eleito, ele passou o dia gravando entrevistas para órgãos de comunicação da mídia comercial. Além da TV Record, falou ainda à TV Globo, ao Jornal da Band, ao SBT e à Rede Vida. A afirmação com relação à Previdência ocorreu na TV Record, que pertence ao bispo Edir Macedo, fundador da igreja evangélica Universal. Macedo declarou publicamente apoio a Bolsonaro. Foi o primeiro veículo a quem o presidente eleito concedeu entrevista e onde esteve por mais tempo, 33 minutos. Bolsonaro disse que as conversas neste sentido já começaram. “Muitos partidos vieram conversar comigo”, afirmou.

Em outra recente declaração, a poucos dias do segundo turno, ele disse que a reforma da Previdência precisa ser aprovada, mas que isso só seria possível caso realizado em etapas e com mudanças paulatinas. Também vinha alegando que a proposta enviada pelo presidente Temer ao Congresso Nacional era ruim justamente por ser abrangente demais e, com isso, ser alvo da campanha organizada pela esquerda.

Na entrevista à Record, no entanto, não escondeu que gostaria de aprovar a proposta na íntegra. “Semana que vem estaremos em Brasília e tentaremos junto ao atual governo de Michel Temer aprovar alguma coisa. Senão toda a reforma da Previdência, ao menos parte, para evitar problemas para um futuro governo”, disse.

‘Ame-o ou deixe-o’

Ao “Jornal Nacional”, da TV Globo, Bolsonaro disse que a declaração sobre expulsar os militantes de esquerda e ativistas do país se referia a “dirigentes do PT e do PSOL”, e fora dada no calor da manifestação na Av. Paulista. No domingo (21), uma semana antes da votação do segundo turno, o capitão reformado do Exército ameaçou em discurso expulsar do país ou colocar na cadeia militantes de esquerda, ativistas sociais e sindicalistas, caso não recuassem de suas atividades militantes. Bolsonaro classificou essas atividades de militância política como ilegalidades. As ameaças foram associadas, nas redes sociais, ao slogan trabalhado pela ditadura empresarial-militar na década de 1970 com ares de patriotismo: “Ame-o ou deixe-o”.

O discurso foi transmitido via internet a apoiadores que se concentravam na Av. Paulista. A transmissão partiu de sua casa, um condomínio na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Pausadamente, vestindo uma camiseta, Bolsonaro quase soletra as palavras, interrompendo-as algumas vezes para fazer sinais às manifestações dos apoiadores, aos quais observava por meio da tela de um celular exibido por um assessor. O modo como fez o discurso, longe de aparentar declarações intempestivas, demonstra que ele fora previamente decorado ou estava sendo repassado por meio de um ponto de áudio no ouvido.

Militantes de partidos de esquerda, de organizações sociais e de sindicatos estão convocando manifestações em vários estados para a tarde desta terça-feira (30). Pretendem demonstrar que, entre o exílio e a cadeia, há ainda a opção de organizar as mobilizações para defender direitos sociais, trabalhistas e democráticos.

Diante das ameaças às liberdades democráticas, o coletivo LutaFenajufe produziu materiais e notas nas quais alertava para o que representa um futuro governo de Jair Bolsonaro para a já limitada democracia brasileira, para os serviços públicos, para os direitos sociais, trabalhistas e previdenciários.

 

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