Nas últimas semanas têm sido recorrentes, nos telejornais brasileiros, cenas de violência policial contra cidadãos, chocando a população. Tais práticas sempre foram rotineiras nas periferias e contra pessoas negras. A principal diferença recente é que os atos violentos, assassinatos e abusos de poder praticados pela Polícia Militar de São Paulo têm sido filmados e enviados à mídia.
Nos últimos anos, no entanto, a política de segurança pública do governo do estado de São Paulo tem sido muito mais ostensiva e letal.
Pesquisa realizada pelo Instituto Sou da Paz constatou aumento de 78,5% do número de mortes cometidas por policiais nos primeiros oito meses deste ano, com o maior número de vítimas negras registradas nos últimos seis anos.
Guilherme Derrite, atual secretário de segurança pública (SSP) do estado, entrou na Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar — o mais violento batalhão da PM paulista) com 24 anos. Depois de quatro anos foi removido por conta do excesso de mortes praticadas em serviço.
Sua gestão à frente SSP paulista é marcada por um aumento significativo da letalidade policial e pela nomeação de policiais que já foram da Rota para cargos estratégicos e do alto escalão, tais como: o subcomandante da PM Augusto Coutinho, o comandante do Choque, Valmor Saraiva Racorti, o Coordenador Operacional Gentil Epaminondas de Carvalho Júnior, responsável pela Corregedoria da polícia Fábio Sérgio do Amaral e o comandante da Inteligência da PM, Pedro Luis de Souza Lopes.
Apesar das denúncias da mídia, Ouvidoria das Polícias, ativistas, especialistas em segurança pública, familiares de pessoas assassinadas e da população, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) já afirmou que pretende manter Derrite no cargo e tem se manifestado favorável à violência policial.
O programa Olho Vivo, que institui o uso de câmeras corporais por agentes da PM, foi criado no segundo semestre de 2020 pelo governo paulista para diminuir a letalidade policial. Nos batalhões em que o uso dos dispositivos foi implementado o índice de mortes por policiais caiu 76,2% entre os anos de 2021 e 2022.
Em 2023, quando iniciou o mandato do governador Tarcísio, o programa Olho Vivo foi substituído pelo Muralha Paulista, no qual o acionamento ou desligamento das câmeras é realizado pelos próprios policiais. E a letalidade da PM aumentou em 46%.
Em maio deste ano (2024), o Ministério da Justiça criou o Projeto Nacional de Câmeras Corporais, que condiciona o repasse de verbas para forças de segurança ao cumprimento das diretrizes de uso de câmeras.
Após as ações da PMSP virarem escândalo internacional, o governador Tarcísio mudou o tom de seu discurso e admitiu à imprensa que estava errado quando criticou as câmeras corporais. “Hoje eu estou absolutamente convencido que é um instrumento de proteção da sociedade, do policial. E nós vamos não só manter o programa, mas ampliar o programa. Eu admito, estava errado. Eu me enganei. Não tem problema nenhum de chegar aqui e dizer para vocês que eu me enganei, que eu estava errado, que eu tinha uma visão equivocada sobre a importância das câmeras”, afirmou o governador.
Nesta segunda-feira (09), o ministro presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Roberto Barroso, determinou a utilização obrigatória de câmeras corporais por policiais militares do estado de SP, com gravação ininterrupta. O ministro destacou que o uso do dispositivo contribuiu para efetivar o Estado democrático de Direito, proteger os direitos fundamentais e cumprir o dever estatal de garantir a segurança pública, beneficiando cidadãos e policiais.
O Sintrajud é expressamente contrário à política de segurança pública que tem ceifado a vida de jovens, crianças e adolescentes que moram nas periferias. A diretoria considera tardia a decisão do STF, que deveria ter atuado já quando do escândalo das operações Escudo e Verão, que deixaram rastros de sangue. É inadmissível que a nossa sociedade continue financiando os políticos, os agentes e as balas que podem matar à população que, em tese, deveria ser protegida pelas forças do Estado.
A CSP-Conlutas, central sindical à qual o Sindicato é filiado, defende ainda a desmilitarização das polícias, como parte da necessidade de livrrar o país do entulho autoritário da ditadura.