Aumento da violência doméstica exige medidas de proteção às mulheres, defende pesquisadora


05/05/2020 - Shuellen Peixoto
Érika Andreassy, do Ilaese, participou da live do Sindicato na segunda-feira, 2 de maio, e falou sobre a violência contra as mulheres durante a pandemia.

“A violência contra as mulheres está presente em nosso cotidiano e, muitas vezes, mais perto do que a gente possa imaginar, por isso é tão importante a gente debater o tema”, foi assim que a pesquisadora Érika Andreassy, do Ilaese (Instituto Latino-Americano de Estudos Socioeconômicos), iniciou o debate na transmissão online do Sindicato, na segunda-feira, 4 de maio. A décima sétima live, que também teve a participação das diretoras Inês Leal e Luciana Carneiro, discutiu o aumento dos índices de violência domésticas durante a pandemia de coronavírus.

Na abertura do debate virtual, a diretora Luciana Carneiro destacou a importância de trazer para a categoria o debate sobre o combate à violência machista, que pode atingir todas as mulheres. A diretora lembrou que o Coletivo de Mulheres do Sintrajud leva o nome de Mara Helena dos Reis, em homenagem à servidora da Justiça Federal que foi vítima de feminicídio em 2018. “A violência doméstica não está restrita a um tipo de mulher, a uma classe social, ou bairro específico, muitas vezes faz parte do nosso cotidiano, acontece perto e nós não sabemos”, afirmou .

O aumento da violência contra mulheres tem sido um dos efeitos colaterais da pandemia verificado em países como China, França, Itália e no Brasil, frisou Érika Andreassy. “Só nos primeiros 20 dias das medidas de quarentena, de 24 de março a 13 de abril, São Paulo registrou aumento de 29% de pedidos de medidas protetivas e de 51% nas prisões em flagrante por violência doméstica,  além disso, foram 16 casos registrados de feminicídio em São Paulo, isso representa uma  taxa de 72% de aumento”, afirmou Érika.

Para a pesquisadora a situação é preocupante, tendo em vista que o Brasil é o quinto país com maior índice de feminicídios num ranking de 83 nações. “A violência doméstica não começa com a pandemia, tem a ver com a naturalização do machismo, ou seja, com a questão cultural dos homens acharem que têm o domínio sobre a vida e as decisões das mulheres, o problema é que é exacerbada neste contexto de isolamento, porque muitas vezes a violência é materializada dentro de casa”, destacou Érika.

Outra questão preocupante são as subnotificações que podem tornar esse quadro ainda pior.  “Muitas vezes as mulheres não conseguem denunciar, seja por medo, vergonha ou por não terem para onde ir, e quando tomamos ciência já é tarde demais”, disse Inês Leal, servidora do TRT e diretora do Sintrajud.  “O fato de uma mulher não denunciar seu opressor não significa que ela gosta de apanhar, pode significar que ela não tem condição de sair de casa com seus filhos”, afirmou Luciana.

Para Érika, há um descaso do poder público no combate à violência contra as mulheres.  “Os primeiros países que foram acometidos pela pandemia e que viram o aumento deste índice tiveram medidas para proteger as vítimas de violência doméstica. No caso do Brasil, tivemos um tempo para o país se preparar e, mesmo assim, não há nenhuma medida efetiva para o momento, isso demonstra o descaso dos governos”, ressaltou a pesquisadora.

“Os governos não se colocam para resolver este problema, nós mulheres estamos numa situação em que a nossa vida corre duplo risco: pelo coronavírus e pela violência doméstica”, afirmou Inês.

Denuncie!

Durante a pandemia, o sistema de boletim de ocorrência eletrônico também foi liberado para casos de violência contra mulher. Além disso, as denúncias também podem ser feitas pelo 190. Nesses casos, uma viatura da Polícia Militar é enviada até o local. Os episódios de agressão também podem ser comunicados pelo Disque 180 – Central de Atendimento à Mulher, a ligação é gratuita e as denúncias podem ser anônimas.

Além disso, Érika orienta que as mulheres que estejam passando por situações de violência avisem a algum amigo, vizinho ou familiar. “Sabemos o quanto é difícil para a mulher relatar violência doméstica. É muito íntimo e muitas vezes o autor é seu próprio companheiro, então o ideal é avisar para alguém de confiança que, no caso de emergência, receberá uma mensagem para que saiba que a pessoa está em situação de perigo e possa chamar a polícia”,  destacou. “Nós, do Movimento Mulheres em Luta, também estamos com uma campanha orientando quem ouvir situações de violência na vizinhança que comece um apitaço e chame a polícia”, finalizou Érika.

Lives do Sindicato

As lives do Sintrajud acontecem toda segunda-feira, 17h30, e quinta-feira, 11h, com transmissão pelas páginas no Facebook, no YouTube e também aqui pelo site. Os vídeos ficam disponíveis em todos os canais. O objetivo é manter o diálogo com a categoria nesse período de  isolamento social.

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