Assédio sexual a funcionárias de hotel gera revolta no 11º Congrejufe


28/04/2022 - Luciana Araujo
Delegadas, observadoras e trabalhadoras no evento exigem apuração das denúncias, regulamentação para responsabilizar abusadores e paridade na diretoria da federação.

Mulheres voltam a protestar contra machismo em eventos da Fenajufe (Foto: Jesus Carlos)

O 11º Congresso da Fenajufe foi paralisado na tarde desta quinta-feira, 28 de abril, em virtude de uma denúncia de assédio sexual a diversas funcionárias do hotel onde acontece o evento. Os relatos que chegaram à direção do local e à comissão organizadora apontam que várias trabalhadoras receberam convites indevidos e foram vítimas de “cantadas” e constrangimentos.

“O que tivemos aqui não foi um incidente, foi um crime. Assédio sexual é crime”, destaca a assessora jurídica do Sintrajud, Eliana Ferreira.

A diretoria da Fenajufe se colocou a disposição das trabalhadoras que sintam-se em condições de formalizar denúncia e registrar boletins de ocorrência pelo crime de importunação sexual, e também para buscar apurar e responsabilizar os autores das atitudes abusivas.

Após a suspensão das atividades por cerca de uma hora, mulheres representantes de todo o país ocuparam a mesa diretora do congresso para apresentar a denúncia ao conjunto dos participantes, manifestar solidariedade às trabalhadoras e cobrar medidas concretas para coibir esse tipo de prática, que não é uma novidade nos eventos da entidade.

Também foi ressaltado que o ocorrido demonstra a necessidade de fortalecer o debate e a formação para o combate às opressões na federação e no movimento sindical de trabalhadores e trabalhadoras do Judiciário Federal e do Ministério Público da União.

A diretora do Sintrajud Cláudia Vilapiano leu um trecho do manifesto apresentado pelo Coletivo de Mulheres do Sindicato à proposta de retirar a discussão da pauta do congresso (leia a íntegra aqui). “Depois de tudo o que passamos no último congresso e estamos passando aqui agora, é isso que a gente tem que discutir”, disse. “Nunca foi leve para nós! Que não seja a FENAJUFE o estandarte dessa mordaça e violência que nos atinge e tenta nos calar todos os dias”, destacou Cláudia.

Cátia Machado, servidora da Justiça Federal em Bauru, diretora de base e delegada ao congresso, destacou que “a gente está aqui para acabar com um comportamento que acontece em todos os lugares.”

As mulheres indicaram uma comissão redigir uma proposta de regimento para tratar denúncias de opressão nos fóruns da Fenajufe. O documento deverá ser avaliado na plenária final do congresso, com a perspectiva de ser aplicável já a partir do próximo evento.

“Isso não é a primeira vez que acontece. Em todos os congressos nós passamos por isso”, ressaltou a coordenadora de comunicação da Fenajufe, Lucena Pacheco. “Em 2019, mais de 4.780 processos com esse tema tramitaram pelo TST, pela Justiça do Trabalho, que um monte nós fazemos parte. Então temos que ter consciência que esse tipo de comportamento não pode ser reproduzido nos ambientes nesses ambientes em que nós da classe trabalhadora constituímos para debater essas questões”, ressaltou Jusceleide Rondon, também diretora da federação.

Comissão eleitoral e paridade de gênero

O episódio reforçou uma demanda que já havia chegado ao plenário, de participação na comissão eleitoral que será responsável por conduzir a eleição da nova diretoria que vai dirigir a federação até 2025. O plenário havia eleito, de forma considerada truculenta por representantes de teses, uma comissão composta por cinco homens. Após o protesto realizado pelas mulheres, duas servidoras foram incorporadas ao colegiado. São elas: Anna Karenina, diretora do Sintrajud e servidora da Justiça Federal, e Mônica Valéria Góis. Os demais integrantes são: Eduardo Felin (RS), Lucas José Dantas Freitas (oficial de justiça/JFSP), Marcelo Amorim de Menezes (TRT-15), Marlon Batista (RN) e Maycon Muniz (TRT-2).

A discussão sobre paridade de gênero na composição das mesas diretoras de trabalhos em fóruns da Fenajufe e na diretoria da entidade também ganhou peso após o protesto realizado pelas mulheres.

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