Aposentado da JT votará no domingo depois de ser agredido por PM no 1º turno


28/10/2022 - Hélio Batista Barboza
Wanderley de Oliveira, um dos fundadores do Sintrajud, sofreu lesão na cervical; camiseta contra Bolsonaro e placa por Beatriz Massariol teriam motivado repressão

Wanderley Pedro de Oliveira durante ato contra a reforma trabalhista em Santos na quinta-feira, 27 de outubro (Foto: arquivo Sintrajud)

O servidor aposentado da JT Wanderley Pedro de Oliveira, de 77 anos, vai votar no próximo domingo com uma lembrança amarga do primeiro turno: uma lesão na coluna cervical que o obriga a usar aparelho ortopédico por alguns dias e tomar medicação contra a dor.

Wanderley é um dos fundadores do Sintrajud e da Fenajufe e foi agredido por um policial militar que o tirou da sala de votação no dia 3 de outubro, pelo simples fato de o servidor usar uma camiseta que fazia paródia com o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL). Ele também portava uma placa com o cartaz da campanha pela reintegração da oficiala de justiça Beatriz Massariol. O caso aconteceu em São Vicente.

“Eu já estava em processo de votação, sendo atendido pela presidente da seção, quando o policial veio e tirou os documentos da minha mão, tentou pegar a placa e pediu que eu me retirasse”, conta o servidor.

O policial disse que Wanderley estava sendo detido e pediu que o acompanhasse a uma outra sala. Ele também reclamou da placa, pensando que ali havia alguma crítica ao governo Bolsonaro.

“Eu expliquei que não estava fazendo nenhuma referência [direta] ao Bolsonaro e disse que ele nem poderia estar ali, interrompendo minha votação”, afirma Wanderley. “Depois, quando eu estava saindo da sala, ele me deu um ´mata-leão’ pelas costas e me arrastou para outra sala.”

Antes de liberar Wanderley, o policial ainda fotografou os documentos do servidor. Depois de passar pelo hospital, o aposentado procurou o juiz eleitoral de São Vicente, mas o magistrado não estava dando expediente no dia seguinte ao primeiro turno. Servidores do cartório eleitoral alertaram Wanderley de que ele poderia ser alvo de um mandado de prisão, já que o policial teria comunicado a ocorrência à Delegacia.

O servidor está recebendo assistência jurídica do Sintrajud, da Fenajufe e do grupo Prerrogativas (coletivo formado por advogados, juízes, juristas, professores e pesquisadores do Direito que atua em defesa do Estado Democrático de Direito).

“Esse tipo de violência está se espraiando por todos os lugares e é contra isso que temos de lutar”, afirma Wanderley. “Não quero que aconteça algo parecido com pessoas mais pobres, que não têm como se defender.”

Desde o início da campanha eleitoral, o Sintrajud vem denunciando a violência causada pela retórica do presidente Bolsonaro e seus seguidores de extrema direita. Além dos eleitores em geral, são colocados especialmente em risco os servidores da Justiça Eleitoral, como ficou demonstrado pelo assédio contra os trabalhadores que ajudavam a preparar a eleição em Itapeva (SP), na semana que antecedeu o primeiro turno.

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