O deputado Vinícius Poit (Novo-SP), sem máscara, avança e vocifera contra servidoras e servidores no saguão do aeroporto de Brasília (Fotos: Valcir Araújo).
O descontrole do deputado federal Vinícius Poit (Novo-SP), no Aeroporto de Brasília, diante da recepção a parlamentares por parte de servidores contrários à PEC 32, não se resume a mais uma demonstração de que esta campanha está incomodando parlamentares favoráveis ao projeto e incidindo sobre quem ainda se coloca entre os indecisos. A agressividade também expressa o que representa a ‘reforma’ administrativa, apontada pelo movimento como uma proposta de perfil autoritário e que abrirá caminho para assédio moral e demissões de quem não ‘for confiável’.
É o que avalia a servidora Anna Karenina, da diretoria do Sintrajud, que participava do ato na manhã desta terça-feira (19), na capital federal. “Ele começou com grosseria vindo para cima dos servidores. Quem causou o tumulto foi ele, não fomos nós. Foi uma atitude extremamente grosseira, uma ato evidente de desrespeito aos trabalhadores. A gente já vê o que espera por nós caso essa PEC passe: desrespeito, agressividade, falta de cordialidade e ataque a trabalhadores, que estavam ali reivindicando uma pauta que é extremamente legítima e necessária de ser defendida”, disse à reportagem.
Irritado, o parlamentar passou pelos manifestantes fazendo aquele gesto bolsonarista da ‘arminha’ com os dedos. Em seguida, voltou para discutir com os servidores. Acabou se descontrolando e agindo com agressividade, boa parte do tempo sem a máscara de uso obrigatório no local. Acabou contido pela Polícia Militar do Distrito Federal, que o retirou dali. “Ele partiu para cima do pessoal e se descontrolou mesmo. Ficava a toda hora tirando a máscara. Até que chegou uma hora que a polícia, que estava ali tentando resguardar ele, quando na verdade era ele que estava indo para cima dos servidores, teve que retirá-lo, descontrolado, do ambiente. Ele perdeu a linha, perdeu o controle e precisou ser conduzido para fora pela polícia”, resume o servidor Fabiano dos Santos, da direção do Sintrajud e da coordenação da federação nacional da categoria (Fenajufe).
Quando o deputado apareceu na saída do desembarque, a maioria não sabia quem ele era. Tampouco que já era conhecido dos trabalhadores – em julho de 2019, ele também discutiu, na Câmara, com manifestantes contrários à ‘reforma’ da Previdência. A assessoria do parlamentar gravou a cena e ele postou o vídeo em seu canal no YouTube, onde menciona que foi abordado por manifestantes “da CUT” e de outros sindicatos, como “o Sintrajud e a Fenajufe”. Desta vez, Vinícius Poit não postou nada sobre o ocorrido nas suas contas nas redes sociais. Ele foi um dos sete deputados do Novo que integraram, de forma escancaradamente desproporcional e no dia da votação do relatório, a comissão especial da PEC 32. Porém, como suplente, não chegou a votar na proposta. O Novo não se declara da base governista, porém é um dos partidos que mais vota com Bolsonaro.
A atividade de ‘recepção’ aos parlamentares marcou o início da sexta semana seguida de mobilização do funcionalismo em Brasília. “O dia foi muito produtivo, apesar do cansaço. Acordamos às 5h30min, tomamos café e fomos direto para o aeroporto a fim de fazermos as manifestações contra a PEC 32 no desembarque dos deputados. No local, vários servidores públicos de diversos locais do Brasil protestaram. Tudo bem organizado”, relata a servidora Stela Maris Rubinstein, do TRT-2, que integra a delegação do Sintrajud que está em Brasília com 16 servidores.
A jornada de terça teve ainda o ato-vigília em frente a uma das entradas da Câmara dos Deputados e conversas com parlamentares que receberam os servidores de forma mais civilizada. A delegação do Sintrajud deu sequência às visitas a deputados de São Paulo. Esteve, por exemplo, com Roberto Alves (Republicanos-SP) para expor os argumentos contrários à proposta que ameaça os serviços públicos. “Ele nos disse que essa PEC não será votada este ano, que nossa luta tem sido boa e importante, mas que seguirá a orientação que for tomada pelo partido. Disse que se o partido votar a favor da PEC, ele vota a favor da PEC, mas se houver liberação, ele vota contra a PEC”, informa a servidora Luciana Carneiro, da direção do Sintrajud.
A dirigente sindical ressalta, porém, que embora não haja previsão de data para possível votação da proposta, é preciso manter a pressão: o presidente da Câmara, Arthur Lira, segue articulando o apoio de parlamentares e a qualquer momento pode colocar a matéria em pauta.
Na entrada da Câmara, a manifestação reuniu representações de sindicatos e voltou a fazer muito barulho. “[Éramos] muitos manifestantes de vários locais, com faixas e bandeiras. Alguns dirigentes sindicais, servidores e deputados discursaram no ato”, relata Stela, que participa pela primeira vez das caravanas organizadas pelo Sintrajud. “Avalio que é de extrema importância a participação do máximo de servidores ativos e aposentados presencialmente em Brasília. E sugiro que seja mais incentivada e divulgada a urgência da integração e participação efetiva de todos, as caravanas têm um papel fundamental para a garantia de nossos direitos”, disse, destacando o papel desempenhado pelos aposentados nesta luta.
Delegação do Sintrajud nesta semana em Brasília.