Imagens divulgadas após a concretagem da cratera dá a dimensão do problema (Fotos: Arquivo do Governo de SP).
Na manhã desta terça-feira, 1 de fevereiro, uma parte da pista local da Marginal Tietê desabou, abrindo uma gigantesca cratera no trecho onde ocorriam as obras da linha 6-laranja do metrô de São Paulo, ainda sem previsão de retomada quando este texto foi publicado. Informação divulgada pelo portal ‘G1’, fornecida pela empresa responsável pelo reparo, dá conta de que a quantidade de concreto utilizado para cobrir o buraco seria suficiente para erguer seis prédios de 16 andares.
Segundo informações do Corpo de Bbombeiros, não houve feridos ou mortes, mas quatro trabalhadores tiveram contato com a água do esgoto e receberam atendimento médico.
O desabamento pode ter ocorrido em decorrência de o equipamento conhecido como “tatuzão”, que escava as áreas das estações e era manobrado abaixo do leito do rio Tietê, ter atingido parte do leito ou adutora, mas ainda não há confirmação sobre essa hipótese. Na madrugada do dia 2, segundo informações do CET, a situação foi estabilizada e os trabalhadores da concessionária responsável pela obra iniciaram os trabalhos de escoamento da água e concretagem do buraco. Na publicação deste texto o “tatuzão” ainda não tinha sido retirado do local, 14 metros abaixo do leito do rio, onde ficou preso após o desabamento.
A obra é parte da estrutura privatizada do Metrô de São Paulo, realizada pelo consórcio Acciona, que retomou os trabalhos de expansão da malha metroviária em outubro de 2020 após quatro anos de trabalhos paralisados. Segundo o Sindicato dos Trabalhadores Metroviários de São Paulo, a maioria dos trabalhadores desta obra são terceirizados.
Em entrevista ao site da CSP-Conlutas, o coordenador do Sindicato dos Metroviários Altino Prazeres destacou as irregularidades que vêm sendo denunciadas nos processos de privatizações do Metrô e que, na avaliação da entidade, colocam em risco vidas de usuários e trabalhadores. “A obra da Linha 6 está totalmente nas mãos do setor privado. Desde o início foi marcada por vários problemas. Chegou a ser paralisada e abandonada pelo primeiro consórcio vencedor, formado pela Odebrecht, Queiroz Galvão e UTC, sendo retomada apenas em 2020 pelo grupo espanhol Acciona”, afirmou.
Em nota, o Sindicato dos Metroviários classificou como “tragédia anunciada” o ocorrido.
Este não é o primeiro acidente em obras de expansão realizada por empresas privadas no Metrô de São Paulo. Em 2007, um deslizamento de terra no canteiro de obras da Estação Pinheiros, da Linha 4 (Amarela), abriu um buraco de 30 metros de profundidade, matando sete pessoas afetando quase 80 famílias que tiveram suas casas interditadas. O Consórcio Via Amarela (formado pela Odebrecht, OAS, Queiroz Galvão, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez), funcionários do Metrô e de empresas que projetaram a obra foram processados. Em 2016, 14 acusados foram inocentados e o Ministério Público recorre até hoje.
Além dos desabamentos, o Sindicato dos Metroviários vinha alertando sobre vários incidentes nas linhas 8 e 9, operadas pela empresa ViaMobilidade (do grupo CCR, que também opera as linhas privadas 4 e 5), que começaram a funcionar no dia 28 de dezembro. Já nos primeiros dias, os metroviários denunciam que foram registradas diversas falhas, acidentes graves e até atropelamentos.
Para Altino, os problemas são consequência da irresponsabilidade das concessionárias, que não garantiriam treinamento adequado aos trabalhadores contratados e os expõe a jornadas exaustivas. “Privatizar é entregar empresas e serviços, como os transportes, para servir apenas aos interesses de grupos privados, que só se preocupam com o lucro, sem compromisso com o atendimento à população e soberania do país. É preciso ir à luta para frear e reverter toda e qualquer privatização”, destacou o coordenador do Sindicato dos Metroviários.
A diretoria do Sintrajud considera urgente a apuração de responsabilidades de mais esse episódio, além de defender a reversão de todas as privatizações e da precarização dos serviços públicos.
*Com informações do Sindicato dos Metroviários e CSP-Conlutas.