“A pandemia no Brasil será uma das mais catastróficas do planeta”, defende historiadora


19/06/2020 - Shuellen Peixoto
Virginia Fontes debateu o aprofundamento da crise política e econômica no país durante live do Sindicato que aconteceu nesta quinta, 18 de junho.

O agravamento da crise sanitária, política e econômica no Brasil foi tema do debate na vigésima nova live do Sintrajud. O bate-papo virtual aconteceu nesta quinta-feira, 18 de junho, e teve a participação da historiadora Virgínia Fontes, professora e pesquisadora da Universidade Federal Fluminense e da Escola Nacional Florestan Fernandes, além dos diretores Fabiano dos Santos e Luciana Carneiro.

Virgínia Fontes destacou que a situação brasileira é trágica no que se refere a pandemia. Mesmo com as medidas de contenção anunciadas em tempo hábil, as discordâncias entre o presidente da República e o então ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta, impediram a realização de procedimentos necessários para frear a disseminação do coronavírus.

“Apesar de termos o Sistema Único de Saúde, que seria capaz de coordenar e centralizar uma política nacional para enfrentamento de pandemias, o governo federal recusa a existência do SUS, nega o enfrentamento da pandemia, o resultado é o que estamos assistindo: os estados estão abrindo em pleno ápice [do contágio]”, afirmou Virgínia.  “Estamos chegando em 50 mil mortes, que poderiam ter sido evitadas se Bolsonaro não tivesse teimado o tempo todo em manter as atividades abertas, acreditando que existia um remédio mágico pra pandemia: a cloroquina”, destacou.

Para a historiadora, a pandemia no Brasil caminha para ser uma das mais catastróficas do mundo. Em meio à crise de saúde, a professora também chama a atenção para os ataques ao estado democrático de direito, promovidos pelo governo Bolsonaro e seus ministros. A exemplo da mudanças na forma de divulgação dos números da pandemia no país que forçou os veículos da mídia nacional a formarem um consórcio para apuração própria dos números da doença no país. “A imprensa internacional já entendeu que uma das condições para entender a pandemia no Brasil é acompanhar os cemitérios, que mostram o crescimento no número de mortes no país”, afirmou Virgínia. Para a professora, esses dados confirmam que este é o governo da necropolítica, usando um conceito cunhado pelo filófoso camaronês Achille Mbembe, que se refere à morte como política de gestão populacional.

Crise econômica e social

Durante o debate, a pesquisadora ressaltou a gravidade da crise econômica e social no mundo, mas afirmou que esta já era uma situação esperada, a pandemia foi o estopim. Ainda na opinião de Virginia Fontes, é necessário entender a crise e pensar maneiras de combater os efeitos nefastos dela.

“Apenas no século XXI já vivemos três grandes crises capitalistas,  a dos Estados Unidos em 2008, a crise europeia em 2012 e a que estamos vivendo agora, já vimos o preço social cobrado desta crise, com a destinação  massiva dos recursos públicos sobretudo para os grandes capitalistas. E os trabalhadores que pagam por esses recursos”, afirmou Virginia.

Na opinião da historiadora, a atual crise tem como característica uma massa de trabalhadores informais que não possuem formas de organização e nem contratos de trabalho formais, e para enfrentar seus efeitos é preciso que o conjunto dos trabalhadores estejam unificados. “A existência de trabalhadores em condições informais indica que há uma tendência forte de retirar cada vez mais direitos do conjunto dos trabalhadores. Nós, que temos trabalhos formais, temos a responsabilidade de estar na luta junto com eles, não apenas pelos nossos direitos. Esta é uma luta permanente”, concluiu.

Ainda na opinião de Virgínia Fontes, o caso brasileiro é ainda mais grave, tendo em vista que o avanço na retirada de direitos vem acontecendo nos últimos anos de forma devastadora, a exemplo das ‘reformas’ trabalhista e da Previdência, da Emenda Constitucional 95, dentre outros. Para a pesquisadora, a eleição de Jair Bolsonaro é também resultado dessa avalanche de retrocessos nos direitos. “É um governo que foi montado com extrema violência, desde a estrutura do processo eleitoral até os ministérios, numa devastação do Estado brasileiro, tendo a outra ponta na comunicação, colada no silenciamento de tudo que desagrada aos grupos que estão no governo”, afirmou.

A direção do Sindicato ressaltou ainda que um dos grandes alvos do governo e do Congresso Nacional neste momento é o funcionalismo público. “Desde o ano passado, se debate um plano, o ‘Mais Brasil’, para reduzir salários do funcionalismo. Agora a narrativa é que precisa reduzir salários dos servidores para garantir o auxílio emergencial, muito embora, nos primeiros dias de pandemia, foi injetado um trilhão nos bancos e este recurso que não chegou para a população por nenhum canal, se incorporou ao patrimônio dos bancos”, destacou Fabiano dos Santos. “É uma política irresponsável e despreocupada com a situação dos trabalhadores, que não se inaugura com a pandemia, mas que oportuniza a pandemia para aprofundar ataques”, concluiu o diretor do Sindicato.

Para a pesquisadora, o governo Bolsonaro está perdendo força, principalmente depois da saída dos ex-ministros Luiz Henrique Mandetta e Sérgio Moro, e tenta reverter essa fraqueza em mais violência, e é necessário que os trabalhadores respondam com mobilização e luta. “Temos na liderança do governo alguém com atitudes nazifascistas, que tenta desmantelar todas as conquistas populares e civilizatórias no estado brasileiro, neste contexto, o enfrentamento contra Bolsonaro continua central”, ressaltou.

Para a diretoria do Sintrajud, o momento exige a busca de todas as formas de mobilização em defesa da democracia e contra o retrocesso nos direitos sociais. “É o momento de nos unirmos para combater essas políticas discriminatórias, que disseminam ódio, que naturalizam absurdos como retorno do AI-5”, afirmou Luciana Carneiro. “Nós, enquanto classe trabalhadora, não podemos silenciar diante de tudo que está colocado, diante destes ataques. Precisamos nos unir, senão perderemos todas as conquistas que tivemos até então”, concluiu a diretora do Sintrajud.

Acompanhe as lives do Sindicato!

Para manter o diálogo com a categoria sobre os temas da realidade e prestar contas da atuação da entidade, a diretoria do Sintrajud tem realizado as lives sempre às segundas (17h30) e quintas-feiras (11h). Os bate-papos virtual são transmitidos pelas páginas no Facebook, no YouTube e também aqui pelo site.

Na próxima segunda-feira, 22 de junho, às 17h30, transmissão online terá a participação do professor Domingos Alves, docente da FMUSP/Ribeirão Preto e membro do grupo COVID-19 Brasil, para debater o tema ‘O Fim do distanciamento na pandemia é ‘abatedouro social’. Participe e convide seus colegas.

Veja integra da última live aqui:

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