Economista alerta: falta de reajuste pode significar redução salarial de 26% sob Bolsonaro


07/03/2022 - Helcio Duarte Filho
Presidente não reajustou salários de servidores durante todo o mandato até aqui; percentual acumulado no período coincide com a redução salarial nominal permitida pela 'reforma' administrativa contra os servidores, que não passou em 2021.

Redução salarial de fato. É assim que o economista Washington Moura, assessor econômico do Sintrajud, define o que ocorre quando as perdas inflacionárias corroem o poder de compra dos salários e não há recomposição salarial. No caso da gestão do presidente Jair Bolsonaro, caminha-se, se nada for feito, para quatro anos seguidos de governo sem concessão de quaisquer reposições nas remunerações.

Com os preços descontrolados, o impacto é grande. Nos três primeiros anos de governo, de janeiro de 2019 a dezembro de 2021, a inflação acumulada causou uma perda que exige um reajuste de 19,99% para que os salários voltem aos patamares anteriores ao início do governo Bolsonaro.

Pela projeção da inflação para 2022 do boletim Focus, do Banco Central, as perdas acumuladas em quatro anos chegarão a 26% até o final da gestão deste presidente. O boletim Focus é uma avaliação do ‘mercado’, que em 2021 errou feio ao apontar uma inflação que se configurou três vezes superior ao final do ano – portanto, o cenário pode ser bem mais grave. Estas contas tomam por base o IPCA ( Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), do IBGE.

Washington ressalta que o tamanho das perdas salariais coincide com os 25% da redução prevista na ‘reforma’ administrativa (PEC 32/2020) que o governo tentou aprovar no ano passado e não conseguiu. “Veja bem, vamos supor que a inflação fosse zero, não tivesse inflação nesses três anos. A PEC reduziria o salário em 25%, nominalmente e de fato. Aqui, não houve uma redução nominal, mas houve uma redução de fato. Vai haver uma redução, de fato, igual ao que estava previsto na reforma administrativa. Porque na prática o poder de compra da remuneração de servidores, para voltar a janeiro de 2019, precisaria de 26,02% [para ser recomposto]”, explica o economista.

“Claro que, se houvesse uma redução nominal, aí seria um absurdo total, porque seria mais de 50%. Mas no que diz respeito a esse aspecto das remunerações dos servidores, é como se o governo tivesse aprovado a reforma administrativa, sem precisar aprová-la”, observa. “É uma redução efetiva, não é nominal, mas é efetiva. Você comprava quatro quilos de feijão, agora vai comprar três”, exemplifica Washington.

Para tentar impedir que Bolsonaro carimbe ‘reajuste zero’ nos quatro anos de seu governo, os servidores organizam a campanha salarial conjunta, que está sendo construída nacionalmente pelo Fonasefe (Fórum das Entidades Nacionais dos Servidores Públicos Federais), do qual o Sintrajud e a Fenajufe participam, ao lado do Fonacate (Fórum das chamadas carreiras típicas de Estado) e outras organizações sindicais. A campanha prevê uma jornada de mobilização em fevereiro e indicativo de construção de greve para 23 de março, caso os chefes do Executivo, Legislativo e Judiciário não revejam suas posições e abram negociações efetivas em torno do reajuste emergencial.

Leia demais partes da entrevista:

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