SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL NO ESTADO DE SÃO PAULO
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1/12/2016

Por uma literatura com protagonismo negro

Servidora da JT Barra Funda tem editora com recorte étnico-racial e blog sobre maternidade

                         Foto: Kit Gaion

Segundo o IBGE, 54% dos brasileiros declaram-se pretos ou pardos. Mas essa maioria não está representada na televisão ou em livros, revistas e jornais. Quando aparecem, no caso da literatura e da TV, negras e negros ainda são representados como malandros ou trabalhadores domésticos, como nas telenovelas.

Essa invisibilidade inspirou a servidora Luciana Barroso da Silva, do Fórum Trabalhista Ruy Barbosa, a criar a Editora Ina Livros, especializada em literatura com protagonismo negro, além do blog “A mãe Preta”, que trata de temas relacionados à educação de crianças negras numa sociedade racista. No Tumblr, ela criou a lista 100 livros infantis com meninas negras.

Jornal do Judiciário: Fale um pouco sobre seus projetos.

Criei o blog depois que tive minha segunda filha, porque quando eu estava grávida não encontrava nada sobre educação de crianças negras e a gente sabe que o racismo existe já na infância. Senti necessidade de falar sobre isso, compartilhar minhas angustias, dificuldades e preocupações de como é criar uma criança negra numa sociedade racista. Os 100 livros infantis que listei mostram meninas negras de maneira positiva. E, paralelo a isso, tenho uma livraria especializada em literatura com protagonismo negro.

JJ: O que te levou a pesquisar e construir o Projeto 100 meninas negras?

A partir do trabalho com a livraria, muitas pessoas nos questionaram sobre literatura infantil, e eu já tinha vontade de procurar uma literatura infantil com protagonismo negro para mostrar para minhas filhas, já que elas não se veem nos jornais, revistas, desenhos animados. Eu precisava resgatar essas referências e por isso criei o Projeto – uma lista que construí lendo todos os livros. Meu trabalho é muito focado na literatura infantil, buscando referencial para que as crianças possam se ver na literatura de uma maneira que elas não costumam se ver nos outros espaços.

JJ: Quais as dificuldades para educar crianças negras no Brasil?

Quando a gente tem um filho preto, precisa militar na questão racial, para que eles tenham uma boa autoestima e uma qualidade de vida melhor. Não dá para só exercer a maternidade como se o racismo não fosse uma coisa muito presente na nossa vida.

Praticamente todas as mulheres negras sofrem por não se reconhecerem bonitas em algum momento da vida. Tenho duas filhas, de quatro e dois anos. Depois que nasceram, decidi não mais modificar quimicamente o meu cabelo; usar ele natural. Eu precisava mostrar a elas que uma mulher que elas admiram tem o cabelo crespo, e que é bonito, para que elas se sintam bem com os cabelos delas. Então o que tenho feito é trabalhar a autoestima delas, para que possam resistir ao racismo.




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